1 de dezembro de 2012

BALADA PARA UM DESGRAÇADO



Os olhos vazados pela dor
viram cair da penha
a esperança 
morta...
...a vida!

O corpo de sal
vestiu-se de pó
e apodreceu terras
inocentes...

Sob as narinas,
nem a brisa dos céus
nem os vapores dos infernos!

Apenas a alma
suspensa...
...vagueia
penada
em trilhos
lilás...


14 de outubro de 2012

OUTONO



No chão,
estrelas partidas...
Todas apagadas,
adormecidas pela dor!

Não havia céus,
não havia mares;
apenas meus olhos incandescentes
flutuando na morbidez
duma esperança sem luz...

Sem asas,
órfão,
andei errante pela terra
morada maldita dos ciúmes ocultos...

Não ando, 
rastejo!
Não ilumino,
escureço!
Não vivo,
ardo!

1 de março de 2012

SOLIDÃO




A lágrima entoa um canto surdo;
em seu voo mortal, a mensagem dum anjo cego...
Minha vida, uma lâmina suicida,
minh'alma, puro sangue!


Cavalo alado dos sonhos impossíveis,
galguei montes agudos e rochas salgadas!
Mares morreram nos meus pés...
Minha vida presa no aquário!


O adeus soterrou a palavra;
em seu bailado traiçoeiro, a tua face no espelho...
Minha face, um pesadelo vivo,
meu corpo, um espantalho lilás!









30 de janeiro de 2012

FIM



O corpo blindado,
o coração trancado
e a chave perdida...


O segredo enterrado,
os olhos ensacados
e a alma vendida...


Quem me indicará a saída?


O caminho torto,
o abismo cego
e a letra apagada...


Faróis mortos, 
sóis anoitecidos
e uma estátua quebrada...


Quem depositará as flores?

18 de janeiro de 2012

PAISAGEM



A alma amarrotada
e o corpo pendurado no varal...
Nem uma gota de sangue,
apenas a sombra duma vida passada!


As mãos esbugalhadas
e os olhos definhados pelo adeus:
tua sorte, minha sina!
Corda bamba que precipitou nos ares acrobatas desgraçados!


A pena desfiada, a carta mal escrita e a tinta rubra;
saudade que enterrou a esperança,
primavera que floriu meu leito!


O copo embriagado, o silêncio da prece e a lâmina órfã;
um ventríloquo adormecido, sou 
poema anoitecido que jamais amanheceu!

9 de janeiro de 2012

NOSTALGIA



Amanheci poentes!
Na solidão, sofri com a esperança pelo teu retorno...
A dor cavalgou a eternidade
e as esporas do tempo lascaram meu dorso!

A noite me recolheu num abrigo roto,
e o frio nasceu em minh'alma desventurada...
Glaciei em ti a saudade imortal e silenciosa:
restos duma esfinge congelada em mistérios!

Entardeci meu coração de poucas cordas:
um relógio às avessas batendo para trás;
num tempo celofane,
embalando pesadelos calçados de ilusão...

Por quê?

3 de janeiro de 2012

MÁRTIR



Na partida, teus pés sangraram...
Choravas sangue por entre os dedos!
Um coração de gesso,
uma santa morta!


Teu silêncio condenou-me ao calvário;
fui pássaro sem asas no céu,
lua que mingou demais na noite da solidão...
Por que lavaste as tuas mãos?


Na despedida cega,
senti em meu peito uma lança imperial!
Suei vinagre na boca
como um Jesus crucificado!