30 de janeiro de 2012

FIM



O corpo blindado,
o coração trancado
e a chave perdida...


O segredo enterrado,
os olhos ensacados
e a alma vendida...


Quem me indicará a saída?


O caminho torto,
o abismo cego
e a letra apagada...


Faróis mortos, 
sóis anoitecidos
e uma estátua quebrada...


Quem depositará as flores?

18 de janeiro de 2012

PAISAGEM



A alma amarrotada
e o corpo pendurado no varal...
Nem uma gota de sangue,
apenas a sombra duma vida passada!


As mãos esbugalhadas
e os olhos definhados pelo adeus:
tua sorte, minha sina!
Corda bamba que precipitou nos ares acrobatas desgraçados!


A pena desfiada, a carta mal escrita e a tinta rubra;
saudade que enterrou a esperança,
primavera que floriu meu leito!


O copo embriagado, o silêncio da prece e a lâmina órfã;
um ventríloquo adormecido, sou 
poema anoitecido que jamais amanheceu!

9 de janeiro de 2012

NOSTALGIA



Amanheci poentes!
Na solidão, sofri com a esperança pelo teu retorno...
A dor cavalgou a eternidade
e as esporas do tempo lascaram meu dorso!

A noite me recolheu num abrigo roto,
e o frio nasceu em minh'alma desventurada...
Glaciei em ti a saudade imortal e silenciosa:
restos duma esfinge congelada em mistérios!

Entardeci meu coração de poucas cordas:
um relógio às avessas batendo para trás;
num tempo celofane,
embalando pesadelos calçados de ilusão...

Por quê?

3 de janeiro de 2012

MÁRTIR



Na partida, teus pés sangraram...
Choravas sangue por entre os dedos!
Um coração de gesso,
uma santa morta!


Teu silêncio condenou-me ao calvário;
fui pássaro sem asas no céu,
lua que mingou demais na noite da solidão...
Por que lavaste as tuas mãos?


Na despedida cega,
senti em meu peito uma lança imperial!
Suei vinagre na boca
como um Jesus crucificado!