29 de setembro de 2011

EUTANÁSIA




Minha vida, vela;
sem vento, vida, 
com sopro, morte...


Na vela, a vida;
na vida, o sopro!
Barco navegante,
corpo náufrago...


Vela sem fogo, fim,
barco sem vela, adeus...
Aplausos e prantos!


[Me apaguem, por favor!] 

22 de setembro de 2011

ÉDIPO



Enterrei no meu corpo a alma:
esfinge de asas cortadas,
mordaça que silenciou o enigma!
Quem inchou os meus pés?

Contemplei no espelho a sombra:
um sonho desfeito em algodão, 
fios da vida rompidos no tempo!
Quem sangrou meus desejos na fraga?

Eclipsei minha desgraça marinha:
cometa que feriu a Terra,
glaciações que fossilizaram o pecado!
Quem cegou os meus olhos? 

19 de setembro de 2011

ADEUS



Carrega contigo o único bem que me resta:
a lágrima!


Apressa-te antes que ela desapareça
e seja pelo vento sequestrada de tuas mãos sôfregas;
a água que um dia banhou meus olhos,
hoje mergulhados num deserto sem fim...


Carrega contigo a esperança,
chuva que morreu, ressecada pela paixão agreste que me consumiu...
Não olhes para trás, não contemples a tua sombra!
Corpo que ontem suou sobre mim, desaguando teus gemidos bestiais...


Carrega entre teus dedos moribundos
a vida que em mim existiu...
Longe dos egitos e dos êxodos infernais!
Foge da árida solidão que nos apartou...


Carrega, por fim, na tua lembrança assassina
a imagem dum corpo de gesso:
alma de sal petrificada pelo abandono,
coração que ardeu na secura do inverno!