5 de dezembro de 2016

CONFISSÃO





Meu corpo,
o castigo com indulgências,
todas de sangue;
tinta vermelha ressequida...

Minh’alma,
a enterro todos os dias
na parede virgem
sem retratos...

Cicatrizes de um tempo ancião...

Meu coração,
o condenei à solitária,
ártica e silenciosa;
berço apenas para os desgraçados!

Meu sorriso jamais existiu...
Falsa máscara maquiada em meu rosto;
sepultura de lágrimas às avessas;
pilastras amareladas,

Ruínas!

9 de agosto de 2015

CHAMADA


A porta se abriu.
Olhando para trás,
sabia que não voltaria mais...

As lágrimas desapareceram no ar
e o pranto se desfez em saudade...

Restaram as palavras;
sim, porque elas não têm boca
e os vermes não podem comê-las!

A porta se fechou
e o ar morreu de escuridão!

Vestido de madeira,
parti em uma nuvem estelar...

3 de agosto de 2015

SALA DE JANTAR



Os talheres assassinos adormecem sobre a mesa silenciosa.
As bordas da toalha derramam-se como água congelada
e as bolhas dum champanhe lilás morrem no ar solitárias...
Os convidados, onde estão?

As cadeiras, todas imóveis, aguardam a solidão.
Chapéus e guarda - chuvas não têm nomes
e os casacos empoeirados são devorados pelo frio...
O anfitrião, onde está?

Velas, copos emborcados, madrugada e um mordomo.
O jantar está servido!
Olhos vazados, mãos sem veias e flores amarelas.
Onde está o caixão?

7 de dezembro de 2014

MALDIÇÃO


Meu coração encastelado, 
cápsula de remédio
que não cura,
mata!

Meu corpo encouraçado,
navio fantasma
que nas garras do Leviatã
desapareceu...

Meu rosto deformado,
boneco de cera
que se apaixonou pelo fogo
e se perdeu...

Minh'alma descarnada, 
sacrifício que não salva,
condena!

De solidão
também morrem os anjos...



6 de janeiro de 2014

SUICÍDIO


Despejei o céu 
numa latrina
e as estrelas se desfizeram
nos esgotos...

Os olhos dos ratos,
silenciosos,
me acolheram entre as fezes...

Nas minhas mãos,
o sangue cuspido dum herói deserdado;
n'alma ressequida, o incenso fétido dos vapores infernais!

(confissão duma esperança assassina...)

30 de junho de 2013

LÚCIFER II



Morro à míngua...
Enluarado homem
que violou o destino de anjos nos céus!

Morro à míngua...
Alma emplumada, um deus enciumado ou uma serpente alada
que violentou a Humanidade em uma terra entorpecida?

Morro à míngua,
porque por minha causa
deuses se suicidaram diante de inocentes no alvorecer da Esperança!

Pai, meu Pai, por quê?!

À míngua, 
morro...

18 de junho de 2013

MESSIAS


Dói em mim
a vestimenta de madeira
que não escolhi...

Doem em mim
os cravos
que não pedi...

Por que não me ofertaram rosas?

Dói em mim
o silêncio dos inocentes
que amordaçou o meu corpo e adormeceu a minha voz!

Dói em mim
ser a profecia,
pois passados não mudam futuros...

Dói em mim
ser
humano...

Vivi pouco na terra para aprender com eles...

Dói em mim
ser Deus,
porque meu pai me contou que jamais morreria!

Os pais morrem por seus filhos...
Mas por que meu pai não morreu por mim?
Pai, meu pai, por quê?!

Estavas aonde,
Deus?



1 de dezembro de 2012

BALADA PARA UM DESGRAÇADO



Os olhos vazados pela dor
viram cair da penha
a esperança 
morta...
...a vida!

O corpo de sal
vestiu-se de pó
e apodreceu terras
inocentes...

Sob as narinas,
nem a brisa dos céus
nem os vapores dos infernos!

Apenas a alma
suspensa...
...vagueia
penada
em trilhos
lilás...


14 de outubro de 2012

OUTONO



No chão,
estrelas partidas...
Todas apagadas,
adormecidas pela dor!

Não havia céus,
não havia mares;
apenas meus olhos incandescentes
flutuando na morbidez
duma esperança sem luz...

Sem asas,
órfão,
andei errante pela terra
morada maldita dos ciúmes ocultos...

Não ando, 
rastejo!
Não ilumino,
escureço!
Não vivo,
ardo!