31 de julho de 2011

REVELAÇÃO



A alma cariou...
Perdeu o carinho dos homens
e apodreceu em sombras famintas;
nunca tive corpo,
e tampouco os pés!


Senti nos olhos sem luz
a dor de um deus sem ossos:
todos frágeis, feitos de papel...
Minhas mãos, quem as arrancou de mim?


Em sonhos de fumaça,
o calor dos umbrais congelou meus poros!
Subi incenso,
desci poeira...


Quem me livrará no dia do Senhor?

27 de julho de 2011

SEPARAÇÃO



Por que me abandonaste? Por que me abandonaste?
Deixaste meu corpo na lápide sem pai e sem mãe...
Quem me protegerá do frio?
Quem me livrará dos meus verdugos?


Saíste silenciosa e desnuda pela porta da frente!
Nas minhas vestes, o alabastro derramado;
no meu coração, a súplica amordaçada...
Por quê? Por quê?


Na noite da traição, clamei por um beijo;
de ti, as tuas costas foram o teu adeus covarde...
Perdi no horizonte ébrio a minha imagem fugidia,
e desceu-me sobre mim um vento boreal...


Cílios cerrados, cálices quebrados!
Levaste contigo a luz dos meus olhos;
partiste, para sempre, minh'alma siamesa,
sopro maldito que jamais conheci...

4 de julho de 2011

FADO



Ah, não tenho mantos nem milagres!
Carrego nas mãos um punhado de lágrimas mortas;
entre os dedos que se cruzam,
todos sangrados pelo punhal!

O corpo circuncidou a alma,
a hóstia condenou minha voz;
silêncio de santos partidos, 
imagens que nunca nasceram!

Ah, não tive camelos nem mel!
Os gafanhotos me devoraram ao cair da tarde;
meus olhos, um deserto... 
Minha fé, uma arca perdida...

Quem me salvará da bandeja de prata?