26 de maio de 2011

NOJO


Teus beijos, eu os vomitei!

Leva contigo a saliva envenenada,

minha palavra cuspida

como se fosse um adeus!


Na solidão dos meus ais,

contemplo no espelho

o meu corpo içado...

Alma desgraçada traída por ti!


Aonde está o Inquisidor?

Sem fôlego, sem hálito,

padeço em meio às pedras afogueadas...

Irmãs mudas e surdas da minha dor!

15 de maio de 2011

INVEJA


Invejo os corpos sem alma,
porque sou perseguido todos os dias por uma sombra que desconheço!

Invejo todos os santos profanos,
porque com suas dores mortais alcançaram o paraíso...

Invejo as asas dos pássaros,
porque não abraçam homens e nem se despedem com adeus!

Invejo as cortinas do teatro,
porque encerram o espetáculo e não se emocionam com os aplausos!

Invejo os lírios do campo,
porque belos e frágeis desprezam a vaidade humana...

Invejo as almas sem corpos,
porque, um dia, se libertaram de todos seus pecados!

Invejo todos os deuses no céu,
porque nunca padeceram na terra...

Invejo...

7 de maio de 2011

Memória de peixe


No tempo dos anzóis,

via meu sangue entre arpões cegos e inocentes!

Estava sobre a mesa diante de meu pai

que me jantava sobejamente...


No tempo das máres altas,

via nas águas a lágrima que nunca tive!

Peixes não choram,

morrem silenciosos...


No tempo dos corais,

vi nas estrelas do mar a face de Deus:

cartilagem alada que me deu ossos,

sonho de homem sepultado no fundo do mar...