Me arrastaram...
Na sala de jantar estava imóvel.
De mim, arrancaram meus olhos!
A boca,
porta que precipitou no abismo a minha voz,
desaparecera...
Nu, desfigurado e sem cor, estava!
Me jogaram num canto,
onde há muito tempo jazia um abajur;
hoje, cego e sem luz,
iluminando solitário a escuridão:
a minha, a dele e a dos outros indigentes...
Exilaram-me num porão sem janelas!
Cortaram as mãos que um dia brilharam!
Mutilado, não sentia frio nem calor;
até a dor, a infame dor me abandonou...
Apiedaram-se e deixaram, por fim, os meus pés;
havia ouro em meus artelhos:
recordações longínquas das noites sem fim...
No recinto imperial não estava mais!
As gavetas se renderam aos cupins,
as portas perderam suas vergonhas;
apodrecido, o verniz pariu crateras e farpas!
Sem alças, era um corpo oco;
um esquife vazio e sem vida...
Nos pés, a prova viva de que reinei no grande salão de marfim!
Ontem, a cristaleira que abrigou taças, bailes e rostos monárquicos;
hoje, um estorvo que contemplou a morte da lua...
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